quinta-feira, 11 de novembro de 2010

por certo os sertões

nascem no planalto central
e se alastram por veredas
desertas e belas
onde racham
sovacos de pernas
e cotovelos de pedra.

nos sertões estéreis

ainda dão a luz
de boitatás, caiporas
e uirapurus

alambiques de cachaça remida
donde tira-se pão e vida
dão falsa esperança de melhora

a embriaguez
o forró cheiroso
Severinas e suas meninas
deitam-se famintas
bucho cheio
de sonhos bobos
de filhos de lendas
de fios de renda

nos sertões estéreis
donde cana nasce
nada mais além de azoto.

sobras de sertão idílico

um olhar
permeado de lama
dor e poeira

costas armadas
carabina e cordões
bala e reza brava

calo amarelo
deitado sob cutelo
no regaço da venta

pouca fala
boca casta
secura de verbo

e ancas ardentes
por trazer devoto
o sol fustigado.

aos patativas e assarés

que se pintam em forma de cordéis
intensos, imprecisos
hipertensos, doidivanas
cedo o que há de mais raro

quero-te nas rimas profanas
em meus urais
já não há medidas
para o desmítico
para o encantamento maior
do bem querer

e meu colo sedento
procurou-te nos olhos
de teu criador
e só encontrou o desprezo
de um gozo preso

que não quer se soltar

mas ainda assim
gritava
berrava em vão
meu nome
pagão!
pagão!

heroínas

Dulcinéia, Pagu, Capitu
só seguem inclinadas
ao lado esquerdo da montaria
não se sabe por falta de peso
ou por desequilíbrio
à revelia

o galope alucinado
ainda ecoará
dentro daqueles sertões
entre a inércia e a luta
há quem diga que é amor
há quem diga que é doença

devastadas pelo dorso
choram e necessitam da luta
latejam em herança de sertão
fina, dura e opaca fuga.

o aluir dos ares

ventos alísios
tomam a capital
e a calmaria se vai
nas areias revoltas
duma praia de Fortaleza

partiram contigo
o sopro de relicários meus
e teu ventre solar
ainda anseia sonhos nossos
em pequenas tatuagens

ecoam abaixo do equador
as canções eólicas
que tentei aluir daqui
desse peito ressentido
e o som Aluisio sorri
manhãs de Iracema!